Na rádio tocava aquele velho rock and roll que ela evitou por tempos, porque lembrava ele. Olhou o vaso de violetas com folhas adormecidas no chão do canto da sala e se justificando para as almofadas jogadas ao lado, os olhos afirmaram:
-Não. Não senti saudades de você, senti saudades do que eu era naquela época. Senti saudades do sabor do amor naquela época. Ele cheirava a entardecer no tapete da sala e a gente ali brincando de descobrir que a vida tinha sabor de fruta no pé.
E mais tarde ela só fazia as unhas e ele o café e no final ela pedia sempre um trago do cigarro dele.
Pedido que agora, injustificavelmente, depois do rock and roll na rádio, ecoava pela janela da sala.