24 outubro, 2010

só uma nuvem cobre o verso a céu aberto

Ela olhava. Sentada no banco do ônibus, olhava. Olhava a janela, a catraca, o cobrador na vertical. Olhava a porta dupla, o chão, os pés inquietos e os sonolentos. Olhava os bancos vazios e os ocupados. Olhava o suor que escorria dos rostos. E ainda não era verão meu Deus... era Primavera e o calor já fervia. Ela tinha a respiração quente, as mãos quentes, o corpo quente. O calor abafava-lhe os pulmões e seus olhos percorriam uma por uma daquelas pessoas: ele não estava lá. As bicicletas, o taxista que bebia água da torneira. A velha de olhar cansado, as árvores fatigadas, o mendigo que dormia batendo os pés ao ritmo de uma cantiga de ninar -em meio ao sol das duas da tarde. O toque de um celular.O pedreiro que quebrava o chão, o calor de uma cidade toda lenta. O fusca branco, a moça esquecida no ponto de ônibus, a fruta esquecida na sarjeta. Sentada ela olhava. Seus olhos sorriam curiosos, e não, ele não estava lá.
Deixou o encanto, o rumo, a cor, o cheiro. Perdeu-se por todas as ruas as palavras o telefone decorado, Não ligou [Tentou simular uma coincidência]...

Desceu do ônibus e preocupou-se apenas em se livrar do calor.